sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Deus, onde estás?

Já ouvi muitas pessoas se perguntando onde Deus se esconde nos momentos que parecem que tudo está perdido. Em geral, tais pessoas estão tão absortas pela situação dolorosa que não nos permitem muito espaço para argumentação, restando-nos, muitas vezes como única possibilidade, a atitude de acolhimento.


A experiência do sofrimento se constitui como uma realidade que todos os homens rejeitam, exceto em alguns casos de desvios em que a pessoa encontra satisfação no sofrer. Do contrário, fazer a experiência do sofrimento agride o desejo presente em todos nós de viver em estado de felicidade. Além do mais, o sofrimento, na maioria dos casos, coloca em xeque nosso sentimento de onipotência, uma vez que nesse instante parece que tudo escapa do nosso controle e nos coloca diante da nossa fragilidade.

As Sagradas Escrituras desenvolveu o tema do sofrimento em muitas de suas páginas. Ela está repleta de pessoas que vivenciaram sofrimentos de largas proporções e que nos deixaram como legado a certeza de que Deus é profundamente envolvido com a causa do homem. Ele não é, em definitivo, indiferente a dor do homem, apesar de permitir que a experimentemos. A palavra de Deus dirigida a Moisés revela com precisão o envolvimento de Deus com a nossa condição: “O Senhor lhe disse: Vi a opressão do meu povo no Egito, ouvi suas queixas contra os opressores, prestei atenção aos seus sofrimentos. E desci para livrá-los do Egito (...)” (Ex 3, 7-8a). Portanto, o Deus que se revelou não é um mero assistente diante das fatalidades da vida humana, mas alguém que, efetivamente, intervém na situação dos homens.


Entretanto, alguém poderia se perguntar: se Deus ama tanto a humanidade, porque ele permite o sofrimento? A bíblia, com efeito, também tentou responder a esta questão quando colocou a desobediência do homem ao projeto divino na base da experiência do sofrimento. Foi, precisamente, a partir do rompimento da aliança feita logo após a criação que o homem pôde constatar a presença do sofrimento dentro da família (fratricídio de Caim e Abel) e adquiriu sofrimentos físicos, pois a mulher passa a experimentar a dor ao dar a luz aos filhos e o homem, para a conservação da vida, precisa produzir seus alimentos entre os espinhos.

Assim, o sofrimento é uma experiência eminentemente humana e decorrente da resistência em viver o plano de Deus. Para sarar o homem da sua desobediência, Deus se fez obediente e aceitou sofrer pacientemente, fazendo-nos perceber que, a partir de Jesus Cristo, o sofrimento ganha um sentido novo. Com isso, não se pretende aqui propagar uma cultura masoquista, mas, mostrar que o sofrimento pode ser encarado por meio da mística cristã que nos ensina o imenso valor pedagógico dessa experiência.


São João da Cruz, no seu célebre poema “Noite Escura da Alma”, nos ensina que o imensurável valor das provações nos dão como legado o crescimento na vida espiritual. Mas, isso só é possível quando não passamos pelo sofrimento como o fazem os pagãos que não são capazes de enxergar através das sombras das provações. Em outras palavras, ninguém deverá amar o sofrimento em si mesmo, porém quando ele bater em nossa porta devemos desenvolver a espiritualidade da cruz.


O cristão não deve limitar-se a aceitar o sofrimento: ele deve ainda torna-lo santo. Nada pode, tão facilmente como o sofrimento, ser privado dessa qualidade” (MERTON, Thomas). Essa afirmação de Merton, sem dúvidas, o maior místico dos nossos tempos, no faz enxergar que é preciso sacudir a poeira da nossa estaticidade na vivência do sofrimento. É preciso, todavia, que aja uma profunda conversão na nossa mentalidade, tão profundamente influenciada pela cultura secular que repudia toda espécie de sofrimento, refletindo, assim, nossa grande covardia!


Se você hoje se pergunta onde Deus está que não vê o seu sofrimento, tente ouvir a resposta discreta e silenciosa que ressoa nos acontecimentos que o cercam. Deus nos ama incondicionalmente e estará sempre perto de nós a ouvir nosso íntimo clamor e repitamos sempre com o salmista: “Quanto a mim confio em ti, Senhor!” (Sl 31,14)

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