quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Quem sou eu?

Noutro dia, caminhado pelas ruas da cidade, deparei-me pensando na condição humana. Percebi que, não obstante tantas conquistas que trazemos em nosso gabarito, estamos nos tornando alienados no que tange ao conhecimento de algo tão necessário a qualquer indivíduo. Refiro-me a aptidão do desvelamento do mistério que envolve nossa identidade como pessoa. Evidentemente, essa identidade vai, ao infinito, além do nosso número de RG ou CPF; é algo que foi impresso na constituição humana desde o momento em que fomos pensados por Deus.
Vivemos uma época em que tudo chama nossa atenção para fora de nós mesmos. De fato, não agüentamos parar para descobrir nossa identidade pessoal, pois muitas vezes isso implica em lidarmos com realidades que preferimos ignorá-las à confrontá-las com a sobriedade de quem percebeu que é na fraqueza que se manifesta a força.

Permanece novo o adágio de Sócrates, Filósofo grego, que diz: "Conhece-te a ti mesmo!". É verdade que essa intuição desse grande homem da nossa história, se faz dogma, pois é uma verdade inquestionável. Par ser um grande homem ou uma grande mulher é fundamentalmente necessário que sejamos mestres na ciência de nós mesmos.
Contudo, diante da correria do dia a dia, do agitado movimento de uma cidade grande, torna-se quase papel de um verdadeiro artista, fechar nossos olhos para todas as chamadas publicitárias e nos reportarmos para nossa área restrita do nosso "Eu" mais profundo. Não obstante o grande desafio, faça a experiência de ti mesmo e verás quem Deus É.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

O que é amar?

É muito comum falar de amor! Essa expressão encontra-se presente em rodas de pessoas de todas as idades e lugares. Todavia, é bem verdade que cada dia que se passa essa expressão vem ganhando cada vez mais conotações que divergem essencialmente do seu sentido primordial, tornando-se apenas em uma palavra a mais no vocabulário usado corriqueiramente pelas pessoas. Assim, o termo "amor" é utilizado para falar de sexo e de sentimento prazeroso em relação aos outros. Porém, isso é muito pouco para designar algo tão profundo!

A expressão "amor" será plenamente compreendida se formos capazes de nos reportarmos para Àquele que é a essência do próprio amor. Trata-se daquela fonte primordial de onde emana a vida que se traduz em uma doação plena.
Para responder a pergunta: "quem é Deus?", João afirma categoricamente que ele é AMOR! Portanto, para ele, Deus não tem amor, simplesmente... Ele é o próprio amor! Essa compreensão parte do princípio de que o amor não se resume apenas a uma energia ou sentimento, mas é uma pessoa que foi capaz de esvaziar-se a ponto de criar aqueles que seriam os destinatérios dos seus próprio benefícios.
Partindo desse pressuposto, podemos afirmar que o amor não pode ser objeto nas mãos dos homens. Só se ama de verdade se, em conformidade com Deus, formos capazes de nos esvaziarmos em vistas do outro. Duvido do "amor" que se preocupa unicamente com sua própria satisfação. Aliás, creio que isso é a causa de tantos relacionamentos fracassados, pois vivemos uma cultura marcadamente egoísta; nossas relações estão profundamente arraigadas na busca frenética por satisfação e o outro pode se tornar apenas em um meio para isso.
Deus é amor! Só ele é nossa verdadeira satisfação e todas as coisas são acréscimos. Devemos amar os outros, mas isso só será possível se compreendermos que fomos projetados por Ele para a oblatividade e auteridade. Desse modo, seremos mais nós mesmo!

O Bom Pastor

Eu sou o BOM PASTOR
Mc 6, 34
Ao desembarcar, Jesus viu uma grande multidão. Ele foi tomado de cmpaixão por eles, porque eram como ovelhas sem pastor, e pôs-se a ensinar-lhes muitas coisas.

O cenário que contemplamos nessa perícope está permeado de dramas e desilusões por parte do povo de Israel. Mas, antes de nos fixarmos no trecho que acabamos de ler, tentemos compreender um pouco o contexto em que o episódio se desenvolve.

Antes de tudo, é conveniente observarmos, a partir dos textos vetero-testamentários, que Deus sempre se demonstrou cioso na escolha de homens que, sendo tirados do meio dos seus irmãos, são destinados ao ministério do pastoreio. Assim, ao longo da história do povo de Israel, houve várias sucessões de pastores, dos quais muito deles se corromperam e conduziram o povo de Javé para a própria ruína.

Evidentemente, a representação do povo de Israel no tempo de Jesus não era muito diferente do que encontramos com freqüência no Antigo Testamento. Os próprios Evangelhos atestam que os pastores do povo eram pessoas que impunham fardos pesados sobre o rebanho, porém, eles mesmos não eram capazes de carregá-los.

Os chefes de Israel no tempo de Jesus eram compostos por uma elite pensante que interpretava a Lei e se diziam fiéis à Tradição dos Antigos. Eles se afirmavam como homens santos e, portanto, apartados dos demais membros da comunidade. Alguns foram classificados por Jesus como hipócritas, pois construíam uma imagem de uma piedade exterior, objetivada unicamente pela vaidade religiosa.

Dentre os que se diziam “chefes do povo”, os evangelhos fazem destaque da figura do grupo dos fariseus. Esse grupo pretendia apressar a vinda do Messias de Israel mediante a observância estrita da Lei, sob pena da própria vida. No entanto, Jesus os censurou porque eram presos a preceitos escravizantes.

Os Escribas eram os legistas e sacerdotes do povo. Eram, na maioria dos casos, grandes latifundiários que lucravam muito com a atividade sacrifical do Templo. Uma vez que os homens que ia oferecer animais no Templo não podiam conduzir suas oferendas de casa para que não houvesse risco de se oferecer animais defeituosos, eram eles que forneciam aos vendilhões os animais destinados ao ato litúrgico. Isso era uma atividade muito rentável. O profeta Oséias, com muito vigor, censurou essa classe, pois segundo ele, “Eles se alimentam dos pecados do meu povo e anseiam por sua falta” (cf. Os 4,8). Essa crítica do profeta visava atacar os sacerdotes corrompidos que faziam do pecado do povo uma atividade lucrativa para eles, uma vez que quanto mais o povo pecasse, mais necessidades teriam de comprar no pátio do Templo animais a serem oferecidos em sacrifícios. Além do animal vendido, um terço da carne oferecida era separada para o próprio sacerdote.

No tempo do ministério de Jesus os pastores do povo não gozavam de muita reputação. O povo já estava saturado de piedades e práticas aparentes. Jesus, então, aparece como o grande diferencial. Ele não impunha um conjunto de códigos de condutas, mas ele convida os seus ouvintes: “vinde a mim todos os que estais cansados sob o peso do vosso fardo e eu vos darei descanso. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração, e encontreis descanso para vossas almas, pois o meu jugo é suave e o meu peso é leve” (cf. Mt 11, 28-30).

Na tradição judaica, o pastoreio era considerado como sinal da predileção divina pela raça de Israel. É por isso que em tempos de crise, o povo lamenta pelo sacerdote que perambula pela cidade, como se eles mesmos necessitassem de alguém que os orientasse.

A cena do Evangelho de Marcos é reflexo de um total estado de desencanto com o modelo religioso e social tradicionais. O povo anda de um lugar a outro a procura de um verdadeiro pastor que os apascente. Certamente, o pastoreio de Jesus divergia substancialmente em relação aos mestres de Israel. Esse distintivo não era fruto de um pastoreio impositivo, autoritário ou opressor. Mas, ao contrário, é decorrente de uma condução que está voltada para a dor e o sofrimento do próprio povo.

“Jesus sente compaixão do povo, pois são como um rebanho sem pastor”. De fato, o grande diferencial de Jesus em relação aos mestres de Israel era a capacidade de compadecer-se do povo. A compaixão aqui não pode ser entendida como sentimento de dó. Jesus não sentia dó, simplesmente! Ele tinha compaixão...

O termo compaixão entre homens aparece com pouca freqüência na Sagrada Escritura. Isso se dá porque, esse termo estava mais restrito à relação de Javé para com o seu povo de Israel. Ele podia designar a condição de sofrimento em que alguém se vê diante do sofrimento alheio. Sendo assim, ter compaixão é o mesmo que entrar em comunhão como sofrimento do outro; É sofrer junto com o outro!

Jesus contemplou uma multidão oprimida, desencantada, machucada, sem rumo. Ao sentir compaixão, ele atestou que era o verdadeiro pastor de Israel, que era o ungido do Pai, enviado “para anunciar a liberdade aos cativos, devolver a visão aos cegos, pôr em liberdade os oprimidos e para proclamar o ano da graça do Senhor” (Lc 4,18-19)

Nós somos, meus irmãos, o povo que hoje acorre a esse mestre de Nazaré. Também nós, à semelhança do povo neo-testamentário, trazemos em nosso olhar traços de profundos desencantos e frustrações. Quem sabe nossas experiências fracassadas nos deixaram unicamente a possibilidade de uma total falta de perspectiva, de descrença até mesmo no amor-compaixão do Deus que nos amou até às últimas conseqüências.

A interpelação do evangelho tem a finalidade de nos fazer compreender que o sofrimento humano não é alheio à Deus। Deus não está ausente nos momentos de dor. Mas. Ao contrário, a sua presença, mesmo que silenciosa, é garantia de que fazemos parte de um projeto amoroso.


Jesus é agora o verdadeiro pastor de Israel (Ez 3, 15). Ele caminha a frente do seu povo como o Bom Pastor que dá a própria vida pelo seu rebanho (Jo 10, 11); e quando alguma ovelha se machuca ele a conduz sob os seus ombros (Lc 15, 5) a verdes pastagens (Sl 23, 2 a). Nele, de fato, todos encontram vida abundantemente!